segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Museu Picasso, grande expectativa




Escultura & pintura Picasso 
foto: Bertrand Guay AFP

Gosto de pintura contemporânea. Sempre o demontrei ao longo dos anos, nas várias postagens que tenho publicado. Não quer isto dizer que não aprecie os pintores ditos 'clássicos'. Muito pelo contrário. Tal como na dança. Gosto do bailado clássico, mas hoje estou sempre mais atenta à dança contemporânea. Exprime melhor muitos dos sentimentos que me assolam.



La flûte de Pan
Pablo Picasso, 1923

Mas quero hoje voltar a Pablo Picasso. E é com alegria e tristeza que escrevo sobre o 'novo' Museu Picasso. Tristeza? Sim, gostaria de estar em Paris e poder percorrer este espaço que, independemente das polémicas culturais, parece deslumbrante. E alegria, claramente! Terei um novo espaço cultural a visitar quando voltar a Paris.

Reabriu, finalmente, o Musée Picasso, ontem dia 25 Outubro, data que marca o 133º aniversário de Pablo Picasso




O Museu aberto em 1985, fora encerrado em 2009. Começou aí uma série de vinte exposições itinerantes, apresentadas em treze paises, com seis milhões de visitantes que permitiram recolher 31 milhões de euros para financiar as obras de recuperação do edifício, ontem reaberto, cinco anos depois. O Hôtel Salé, no quartier Le Marais, Paris, uma das zonas históricas mais impressionantes de Paris.

"O objectivo não é expor apenas as maiores obras de arte e esperar pelos turistas. Queremos associar os dois aspectos: receber os turistas e mostrar as obras-primas, mas também apresentar uma visão nova sobre Picasso, ao valorizarmos actividades menos conhecidas, como as ilustrações de livros, por exemplo."

Laure Collignon, conservadora


Musée Picasso | Hôtel Salé
photo: Bertrand Salé AFP

Situado em Paris, Le Marais, o Hôtel Salé foi contruido no séc. XVII. Hôtel Salé é provavelmente "le plus grand, le plus extraordinaire, pour ne pas dire extravagant des grands hôtels parisiens du XVIIème siècle."

Bruno Foucart, 1985

Há quem defenda que Pablo Picasso mereceria um espaço moderno, adaptado à sua contemporaneiade, um museu novo.

"Pourquoi Picasso ici plutôt qu’ailleurs, par exemple dans une architecture contemporaine dessinée pour lui, en tenant compte des formats, des exigences de l’éclairage et de celles de la muséographie ?"

Le Monde

Não sei, só passando por lá. Mas, regra geral, agradam-me estes 'encontros' entre o clássico e o moderno. O contraste faz ressaltar as estéticas.


Violon et feuille de musique
Pablo Picasso, 1912

A colecção do Musée Picasso conta com mais de 5000 obras, e várias dezenas de milhar de peças de arquivos.  

A conservadora responsável pelos arquivos, biblioteca, e documentação do museu disse que há cerca de 4755 obras, entre as 4090 gravuras, 297 pinturas e 368 esculturas que compõem o acervo, constituindo “a maior colecção pública mundial da obra de Picasso”.

"Par sa qualité, son ampleur comme par la diversité des domaines artistiques représentés, elle est la seule collection publique au monde qui permette à la fois une traversée de tout l’œuvre peint, sculpté, gravé et dessiné de Picasso, comme l’évocation précise – à travers esquisses, études, croquis, carnets de dessins, états successifs de gravures, photographies, livres illustrés, films et documents – du processus créateur de l’artiste."

Musée Picasso | La Collection

No Musée Picasso ficarão em exibição cerca de 400 obras, de forma cronológica e temática, ao longo de três percursos, que incluem espaços antes vedados ao público, como as caves abobadadas e o sótão, com um tecto em madeira do século XVII. Muitas das obras raramente expostas e outras praticamente desconhecidas.


Musée Picasso
foto : Benoît Tessier REUTERS
No Museu, é apresentada a colecção pessoal do pintor, bem como as obras que Picasso foi adquirindo.
Quando morreu no dia 8 Abril 1973, aos 91 anos, Pablo Picasso não deixou testamento. Nas várias casas, a família foi descobrindo uma herança inimaginável. Dezenas de milhares de obras, desde os primeiros esquissos de criança sobredotada, até às suas últimas telas. Um inventário colossal que revela uma parte dos segredos de Picasso, como homem e como artista.

Jacqueline aux mains croisées
Pablo Picasso, 1954
No rés-do-chão, no primeiro e no segundo andares, concentram-se muitas das obras que colocaram Picasso na vanguarda das artes plásticas e que traçam os seus múltiplos percursos criativos, de 1895 a 1972, da infância até perto da morte, ocorrida em Mougins, 1973.

Musée Picasso | escadaria Hôtel Salé
photo: François Mori AP


A exposição começa com as pinturas monocromáticas dos períodos azul e rosa, passa pelos esboços de Les Demoiselles d’Avignon, rumo ao cubismo, e pela primeira colagem cubista -“Nature Morte à la Chaise Cannée”. 
Ao lado La Celestine (1904), Paul en Arlequin(1924), L’Acrobate (1930), Tête de taureau (1942). 

Auto portraitPablo Picasso, 1901
Há, ainda, “La Course”, a marcar o regresso às formas neoclássicas, “Femme au fauteuil rouge”, já apontando caminhos para o surrealismo, “Massacre en Corée”, a evocar os momentos de guerra de Goya, e tantos outros diálogos com os mestres como “Le dejeuner sur l’herbe d’après Manet” ou com escritores como Guillaume Appolinaire (um dos meus poetas de referências), Jean Cocteau, André Breton, entre muitos.



Ao longo dos percursos, estarão também, as esculturas em ferro, gesso, madeira e bronze, chapas recortadas e pintadas. 

Portrait de Dora Maar
Pablo Picasso, 1937
Mais os vários retratos de Marie-Thérèse, Dora Maar, Françoise, Jacqueline, as mulheres da sua vida, e os auto-retratos de uma vida inteira. E ainda as fotografias que mostram os vários ateliês de Picasso.
Anne Baldassari assina assim a montagem que é “um objecto-manifesto” onde, “sem compromissos nem academismos” ou “concessões de qualquer espécie”, quis “sintetizar uma relação de absoluta liberdade entre o artista e a sua obra”.

Picasso debout de profil dans son atelier devant ses toiles 
Photographie en noir et blanc (vers 1960-1965)
«Quel que soit le langage, qu'on soit dans le classique, le naturaliste, la représentation ou la figuration, Picasso va toujours plus loin", affirme Anne Baldassari, notant qu'il "peut faire une chose et son contraire". "J'ai voulu montrer les logiques profondes qui guident l'oeuvre au-delà et en deçà des apparences".
Le Point
Suponho, pelas várias notícias que li, e algumas fotografias já publicadas nos media e nas redes sociais ligados à arte, que a exposição é grandiosa, pela dimensão do edifício de cinco andares, todos abertos aos visitantes, bem como pelo número colossal de obras do acervo. 

Mas sobretudo de muita valia para arte do século XX a que o nome de Pablo Picasso está indubitavelmente associado como um dos maiores precursores.
E depois gosto da perspectiva que Baldassari pôs na exposição. Esta exposição estará patente até à primavera de 2015. Um espaço curto para um evento desta proporção, sobretudo para quem vive no estrangeiro. Não se vai todas as semanas a Paris.
Mentiria se afirmasse que sou admiradora convicta de toda a obra de Pablo Picasso. Admiro muitas das suas obras, no que concerne a pintura, gravuras, menos a escultura.
Admiro, acima de tudo, o seu rasgo inovador de modernidade que abriu caminhos ao modo como encaramos a contemporaneidade da vida nas sua manifestações.

Visitante admira quadro Femmes dans la salle de bains
Sala Musée Picasso
“Picasso inventou-nos para a contemporaneidade”, afirmou a comissária Anne Baldassari, acreditando que devemos a Pablo Picasso “tudo o que temos, da moda ao rap, dos usos das cores aos modos da palavra”. Picasso “deu cor às palavras”, e ainda hoje “somos herdeiros da sua relação com os materiais”.
O Público
Sim, estou em plena sintonia com as palavras de Baldassari. Tal como já referira.

Visitante admira Crâne de chèvre, bouteille et bougie
(com catálogo na mão)
Na contra-capa do elegante catálogo, cita-se uma frase do pintor: “Dêem-me um museu e eu ocupá-lo-ei”. 
Está portanto ocupado o 'novo' museu. Pablo Picasso voltou ao seu espaço aberto a múltiplas leituras para todos quantos o visitem. 
Sur une assiette bien ronde en porcelaine réelle
une pomme pose
face à face avec elle
un peintre de la réalité
essaie vainement de peindre
la pomme telle qu’elle est
mais
elle ne se laisse pas faire
(...)
Quelle idée de peindre une pomme
dit Picasso
et Picasso mange la pomme
et la pomme lui dit Merci.


Jacques Prévert, Promenade de Picasso, Paroles


G-S


Fragmentos Culturais

26.10.2014

Copyright © 2014-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Crédits: vidéos  Musée Picasso Paris

Nota: Hôtel, no sentido do texto, é a designação dada em francês a grandes mansões privadas que podem ser doadas para museus e afins.


8 comentários:

  1. é muito bom acompanhar as tuas escolhas - sempre eruditas e inteligentes.

    beijo

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  2. Adoro estes encontros com a arte, a cultura e o saber, proporcionados aqui neste espaço.

    Não é novidade, gosto muito do 'Fragmentos Culturais' ;) :)

    Obrigado!

    Tudo de bom.

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  3. Acho mesmo que só passando por lá, o que espero conseguir em breve...
    Obrigada por mo dares a conhecer.
    Bjs

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  4. Há anos que planeio um reencontro com Paris.
    Agora tenho mais um motivo para o reencontro.

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  5. ... e é muito bom ter-te como amigo ao longo dos anos - sempre atento e afectuoso.

    beijo, 'Herético'

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  6. E eu gosto muito de receber tuas visitas, teus comentários sempre optimistas e amistosos.

    Obrigada 'aflores'

    Tudo de bom !

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  7. Que felizarda, 'Lilás' :-)
    Depois me contarás, já que deves passar por lá brevemente....

    Sem dúvida! Percorrer este espaço físico deve ser uma experiência fabulosa.

    Beijos

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  8. Um reencontro que vai saber-te muito bem, João.

    Não vou dizer-te que a Paris não mudou. Mudou, muito. E as pessoas também.

    Mas, a cidade tem algo na 'atmosfera' que nos envolve. E continua a atrair-nos.

    E este motivo - Museu Picasso - é por si só bem aliciante.

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