quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Bright Star : o filme de Jane Campion sobre John Keats





Bright Star
Jane Campion, 2009
https://www.imdb.com/


"Tout objet de beauté est une joie qui demeure :/Son charme croît sans cesse, et jamais/Ne sombrera dans le néant."

Keats, Endymion


Rendo-me! Bright Star é de enorme beleza, na exuberância da fotografia, na  serenidade dos gestos, na delicada sensualidade da paixão amorosa, nos instantes estéticos, na literária escolha dos poemas.


Jane Campion é uma artista na verdadeira acepção da palavra! Em tudo põe uma elegante sensibilidade.



Abbie Cornish | Bright Star
Jane Campion, 2009
http://www.imdb.com/


Campion encontrou a maneira mais sedutora de nos levar a gostar de John Keats ao apresentar este grande poeta inglês sob a perspectiva do olhar da mulher que ele adorou.

Não era preciso, no que me concerne. Sempre admirei e li John Keats. Mas é encantador o olhar feminino sobre o homem e sobre o poeta.


Um do mais jovens poetas do Romantismo, Keats dedicou a curta vida à sua arte que considerava uma inspiração. Custou-lhe a estabilidade financeira e a saúde física.

Morreu de tuberculose, aos 25 anos, em Roma. A sua poesia sobreviveria, embora  ele tivesse morrido com a convicção de ser mal-amado pelos leitores e críticos. Hoje, Keats é considerado um dos maiores vultos da literatura romântica.


Mas, na sua curta existência, Keats viveu um amor intenso com Fanny Brawne, sua vizinha.

"A drama based on the three-year romance between 19th century poet John Keats and Fanny Brawne, which was cut short by Keats' untimely death at age 25."




Abbie Cornish | Bright Star
Jane Campion, 2009

"En deux siècles  le terme "romantique" a eu le temps de se charger de contresens qui l'ont ridiculisé ou neutralisé. Dans Bright star il y a un poète phtisique, un amour contrarié, et des fleurs, dess champs de felurs même. Le film de Jane Campion rend à ces clichés leur dignité d'images poétiques, leur force dramatique, leur sensualité. leur violence."



Bright Star evoca os últimos anos de vida de John Keats, de 1818  a 1821, na sua relação amorosa com Fanny Brawne. Uma relação que até começou mal, dado que Fanny não mostrava grande apreço pela poesia. John por seu lado considerava-a um nada insolente!


Mas a morte do irmão de Keats toca profundamente Fanny. A partir desse momento, ela aproxima-se de Keats ao querer entender a poesia e pede lições ao poeta.


A  paixão casta, mas envolvente vai desabrochar a cada instante, como os esfuziantes campos de flores  que Campion desvenda deslumbrantes diante de nosso olhar.


O filme é lindo pelo modo como Campion decide contar a história. A realizadora adopta um estilo visual, muito belo, na minha visão, ao imitar e acompanhar o trabalho lírico de Keats.  


Bright Star é um dos mais ternos filmes que vi este ano. Emocionalmente carregado de uma imagética profunda e tão sensível.




Abbie Cornish & Ben Wishaw
Jane Campion, 2009
Pathé Distribution
http://www.lemonde.fr/

"C'est l'une des premières grandes histoires d'amour véridiques"

Jane Campion


Bright Star é uma terna e elegante crónica de um amor impossível, devido à doença de Keats

Não é um filme moderno em nenhum dos seus aspectos. Campion honra e celebra os ideais românticos de Keats, mesmo quando reconhece que a realidade do mundo é, por vezes, sua inimiga.




Abbie Cornish & Edie Martin
Bright Star
Jane Campion, 2009


Imagens suaves, frescas, coloridas, sucedem-se! Fanny passeando em campos luxuriantes de flores azuis, John e Fanny ternurando-se deliciosamente, nas costas de Toots (a irmã mais nova de Fanny), que caminha à frente do casal, num gracioso olhar semi curioso, observando-os, de vez em quando.

Jane Campion tem um predilecção por personagens femininas, mulheres que colocam a sua paixão  acima da razão e das conveniências sociais da época! Basta lembrar The Piano. Belo, e sim, bem sensual.  




 
Jane Campion | Abbie Cornish & Ben Wishaw
Festval de Cannes 2009
créditos: AFP/Valery Hache

Jane Campion, Abbie Cornish e Ben Wishaw, na apresentação do filme Bright Star no 62º Festival de Cannes, em 15 Maio 2009.

A interpretação de Abbie Cornish no papel de Fanny Brawne é comovedora. Talvez uma das surpresas do filme

Do mesmo modo, Edie Martin no papel de Toots, outra presença deliciosa na linha de retratos de crianças extraordinárias de Campion. Ninguém esquece Anna Paquin no The Piano!


Mas Campion tem também um olhar muito belo sobre Keats!

Je suis émue par sa tristesse profonde, par l'intimité, le lien charnel, qui l'unissait à Fanny. Car, même s'ils ne font pas l'amour, il y a une connexion physique entre eux, des contacts tactiles. Les lettres montrent qu'ils se caressaient les mains. Dans l'un de ses poèmes, Keats écrit que le toucher a une mémoire, qu'il est pour lui aussi important sinon plus que l'acte sexuel.

Jane Campion

Com uma sensibilidade muito própria,  a câmara guiada por Campion  detém-se apenas nos detalhes que são importantes para os dois jovens amantes. 

Como espectadores, é-nos dada a oportunidade de partilhar o seu envolvimento, com um olhar cúmplice. Bright star nunca força ou insiste, mas sedutoramente move-se lentamente, apreciando o próprio ritmo.

De origem neo-zelandeza, Jane Campion é a única mulher galardoada com a "Palme d'Or" no Festival de Cannes (1986) pela  curta metragem Peel, e em 1993 por La Leçon de piano.

Jane Campion consagrou un filme ao escritor Janet Frame (Un ange à ma table, 1990) e adaptou Henry James (Portrait de femme, 1993).


le monde.fr



 Brigth Star
Jane Campion, 2009
http://www.imdb.com/

Lorsqu'on lit les lettres d'amour de Keats (on en possède trente-trois), elles sont si passionnées, si exaltées ! Ce sont les lettres d'amour les plus extraordinaires que j'aie jamais lues. Elles ne parlent pas simplement d'amour, mais surtout de ce sentiment de vulnérabilité que l'on ressent lorsqu'on se perd dans l'autre. Je crois que c'est l'une des premières grandes histoires d'amour véridiques que l'on connaisse. Bien sûr, il y a eu "Roméo et Juliette", mais c'était de la fiction !


Jane Campion



Bright Star
Jane Campion, 2009
http://www.imdb.com/

O filme Bright Star  procura lembrar-nos que, enquanto vivermos num mundo de sentimentos intimistas e emocionalmente preservados, haverá sempre o benefício e a força para abraçarmos o amor incondicional, de corpo e alma.







Bright star, would I were stedfast as thou art--
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors--
No--yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever--or else swoon to death.


John Keats, Bright star


G-S

Fragmentos Culturais*

13.01.2010
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* Impossível não divulgar a  esfuziante imagética de Campion!