Amy Winehouse
credits: Juan Medina/ Reuters
De regresso a casa, ligo o computador e eis que me deparo com a notícia que sempre temi. Amy Winehouse morreu. Vinte e sete anos, uma alma de poeta num corpo atormentado. A maldição dos 27 repete-se.
Vi o seu último concerto na Sérvia em múltiplos vídeos que correram no Youtube e fiquei entristecida. Amy não tinha retrocesso. Para a frente estava o abismo total.
Perdeu-se uma das melhores vozes da última década, um talento invulgar, foi brilhante: Mas trazia dentro de si aquele desassossego que persegue os mais talentosos.
Amy WinehouseFotografia
José Sérgio/Rock in Rio-Lisboa
via Sapo
via Sapo
A minha homenagem já foi escrita há dois anos. Depois do célebre concerto de Rock in Rio 2008. Aqui fica uma parte, ligeiramente adaptada...
"É óbvio que a principal vedeta do primeiro dia de "Rock in Rio 2008" seria Amy Winehouse.
E, quem não se deslocou a Lisboa, sentou-se vidrada em frente do ecrã de televisão para poder, ao menos, ouvir e ver à distância esta fabulosa cantora pop-soul.
A expectativa era grande! Até porque se temia que Amy Winehouse cancelasse, à última hora, a sua presença como tem feito por esse mundo fora!
Existência complexa, amores difíceis, contornos devastadores, na sua voz, ela é inigualável! Ela canta com a alma.
A expectativa era grande! Até porque se temia que Amy Winehouse cancelasse, à última hora, a sua presença como tem feito por esse mundo fora!
Existência complexa, amores difíceis, contornos devastadores, na sua voz, ela é inigualável! Ela canta com a alma.
Gosto de Amy Winehouse, muito antes de se ter tornado famosa na estrondosa vitória nos Awards 2008! Visual diferente, esfuziante, um pouco retro, mas profundamente carismático, Amy Winehouse prende o nosso olhar!
Entre a panóplia que é todo o seu ser - corpo tatuado, vestidos coloridos, penteado retro, maquilhagem exuberante, bem ao estilo dos anos 60 - o que nos atrai é mesmo o seu olhar!
Sim, o olhar! O olhar com alma. E aquela suave e angustiante nostalgia que se desprende, em notas soltas como mágoas, timbres melódicos de outras vivências. A voz mais soul da actualidade!
Quando Ivete Sangalo avisou que Amy Winehouse já tinha chegado, todos nós soltámos um Ah! de prazer, os presentes e os que se colaram ao ecrã de televisão!
Eis que entra em palco, Amy Winehouse, desgarrada, tímida, completamente instável naquele seu andar, e deixa sair uma voz que mal atingia as notas das suas mais célebres canções! Ficámos emudecidos! Chocados! Temerosos! Compadecidos!
A cada tema, suspensos nos perguntávamos, se conseguiria actuar até ao fim! Todos seguíamos com angústia e muita tristeza os passos de salto bem alto da cantora, sempre receando vê-la cair, o que aconteceu. Poderia até desfalecer, tal o seu estado. A sua presença parecia suspensa por um ténue fio.
Black to Black (2006)
Amy Winehouse
Amy tinha consciência do seu estado confrangedor, mas com determinação, apesar do microfone lhe ter soltado das mãos, das constantes falhas de voz, continuou corajosamente, tentando fazer um pouco de humor de todo aquele fracasso. E ninguém arredou pé!
Todos a olhávamos, como se a quisemos proteger de colapsar em palco!
Todos a olhávamos, como se a quisemos proteger de colapsar em palco!
As centenas de pessoas presentes, davam-lhe as notas que lhe faltavam, e cantavam os seu êxitos mais expressivos, como que querendo muito que ela prosseguisse.
Os seus músicos tentavam colmatar toda as suas falhas, reunindo-se em volta da cantora num esforço inequívoco de apoio e salvaguarda.
E nós, diante do ecrã, atónitos, pediamos mentalmente que não sossobrasse! Um concerto intensamente confrangedor. Doeu-nos a alma.
Amy Winehouse
créditso: José Sérgio/Rock in Rio-Lisboa
via Sapo
'A noite do palhaço triste' foi o título dado à notícia-comentário que os comentadores de jornal digital Sol deram à presença de Amy Winehouse na primeira noite do Rock in Rio! E isso chocou-me! Pela braveza com que a criticaram e flagelaram. Tanta frieza !
É indesmentível que o espectáculo que todos observámos, foi profundamente triste! Uma jovem cantora, cheia de talento que se autodestrói a cada dia que passa. Mas que direito temos de julgar a vida dos outros?!
É indesmentível que o espectáculo que todos observámos, foi profundamente triste! Uma jovem cantora, cheia de talento que se autodestrói a cada dia que passa. Mas que direito temos de julgar a vida dos outros?!
A comentadora da 'Sic Radical' também não se conteve. Já o comentador habitual dos festivais e concertos - não fixei nomes - ficou-se sobriamente num comentário discreto, resguardando um pouco a dignidade pessoal a que Amy Winehouse tem direito, apesar de tudo.
Só quem não vê o imenso e oceânico olhar, vazio, angustiante, que alguns fotógrafos conseguiram captar na sua breve vida, ridiculariza assim um ser humano!"
A Vida de Amy Winehouse
Nick Johnstone
Numa biografia não autorizada de Amy Winehouse editada em Portugal, o autor Nick Johnstone escreve:
"Amy Winehouse é autêntica, uma artista genuína exposta pelas brilhantes luzes da ribalta", cuja vida pessoal "é sangue para tubarões."
Quando a olho, revejo Jim Morrison em tempo de auto-destruição, Janis Joplin no olhar angustiado! Quando a oiço, lembro Hazel O'Connor na voz timbrada e melodicamente forte, pungente!
A expressão de amargura sem retorno, essa leva-me indubitavelmente a Billie Holiday.
Tanto talento, tanta vida por viver, belíssimas canções, dons que todos desfolharam, como quem solta a fragilidade do ser-se humano.
A expressão de amargura sem retorno, essa leva-me indubitavelmente a Billie Holiday.
Tanto talento, tanta vida por viver, belíssimas canções, dons que todos desfolharam, como quem solta a fragilidade do ser-se humano.
Can I read a crystal ball?
Can my soul be like a wishing well?
Can it be locked up in hell?
Is it the reason why I lose?
Does it have the right to chose?
Can my soul take away my life?
Can it decide if it wants to die?(...)
Jim Morrison, My Eternal Soul
Na já conhecida 'maldição dos 27 anos' morre Amy Winehouse. Para mim será sempre Amy! A voz! O talento. Alma.
Um dia tão triste!
G-S
Fragmentos Culturais
24.07.2011
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