sábado, 26 de julho de 2014

Homenagem à Literatura !

Hoje vou falar de livros, num tributo às Letras. Livros! Quando me perguntam se gosto de livros, sorrio! É que os livros são os meus outros olhos! Aquel olhar que não se detem nas páginas, e se adentra no universo na procura do que o livro me aponta para além das margens e das palavras

Viajar em busca do conhecimento, do inimaginável, das viagens que os livros despertam. Escolho um livro. E vou onde o livro me leva. E tudo se interliga. Conhecimento. Magia. Introversão. Sorriso.

Então hoje, Fragmentos Culturais é um tributo às Letras. Ao luto da Literatura. Três grandes vultos, uma escritora sul-africana, e dois autores brasileiros desapareceram na última semana e meia.

Nada mais meritório do que relembrar as suas obras, num panorama que vai da literatura de intervenção, ao pensamento filosófico, pedagógico, passando pela literatura nordestina.





Nadinee Gordimer (1923-2014)

"Written words still have the amazing power to bring out the best and the worst of human nature,

Nadine Gordimer


Nadine Gordimer, escritora sul-africana, Prémio Nobel 1991, uma das mais influentes vozes contra a segregação durante o regime do apartheid.





Nadine Gordimer
Nadine Gordimer estreou-se como contista nos anos 40, mais precisamente com Face to Face, um volume de contos que saiu em 1949.

Aos quinze anos publicou no suplemento juvenil de um jornal, o seu primeiro conto (1937).



Face to Face
Nadine Gordimer 
http://img1.fantasticfiction.co.uk/

Começou a escrever aos 9 anos. E aos quinze anos publicou o primeiro conto no suplemento juvenil de um jornal em 1937.


Google Doodle 92º Aniversário de Nadine Gordimer
20 Novembro 2013

Em 20 de Novembro 2013, Google homenageou-a com o Doodle pelos seus 92 anos.

"The Doodle features Nobel Prize winning author Nadine Gordimer laboring in her study, where she typically worked from early morning into the late afternoon. 

A dear friend of Nelson Mandela’s and a powerful voice for change in South African politics, Gordimer moved untold thousands with the pathos of her sparse, penetrating narratives."




The Lying Days
Nadine Gordimer

seu primeiro romance, The Lying Days, foi publicado em 1953, um livro com uma forte componente autobiográfica, cuja acção decorre na sua cidade natal, Springs, (África do Sul). Narra o modo como uma jovem branca confrontada com a injustiça da divisão racial vai adquirindo consciência política.





The Conservationist 
Nadine Gordimer  

Gordimer publicou dezenas de romances, livros de contos, muitos deles retratando a África do Sul durante o regime do apartheid

Com este livro, venceu Man Booker Prize (1974. Traduzido em português pela Asa.

Prémio Nobel de Literatura (1991), a Academia Sueca justificou a escolha afirmando que a “magnífica escrita épica” da romancista sul-africana trouxera “um grande benefício para a Humanidade”, uma expressão utilizada pelo próprio Alfred Nobel.


Nadine Gordimer "who through her magnificent epic writing has - in the words of Alfred Nobel - been of very great benefit to humanity"


Nobel Prize committee




Nadine Gordimer
credits: Ulf Andersen/ Getty Images
via LaVanguardia/ Hemeroteca

Se quiser ler um pouco mais sobre Nadine Gordimer, o Wall Street Journal dedica-lhe um artigo muito interessante.

A última semana foi também de perda para a literatura brasileira. Depois da morte do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, na sexta-feira, 18 Julho, a morte do escrito, pensador e pedagogo, Rubem Alves, na madrugada de 20 Julho 2014.



João Ubaldo Ribeiro (1941-2014)

João Ubaldo Ribeiro, Prémio Camões 2008, o mais importante galardão literário dedicado à Literatura em Língua Portuguesa, membro da Academia Brasileira de Artes, escreveu livros como "Sargento Getúlio", "O Sorriso do Lagarto" e "Viva o Povo Brasileiro".





“Seria hipócrita ficar aqui fingindo que não sei da minha importância no conjunto dos escritores brasileiros e latino-americanos”.

João Ubaldo Ribeiro
Consagrado como um marco do moderno romance brasileiro, Sargento Getúlio "filiou o seu autor, segundo a crítica, a uma vertente literária que sintetiza o melhor de Graciliano Ramos e o melhor de Guimarães Rosa. A história é temperada com a cultura e os costumes do Nordeste brasileiro."



Viva o Povo Brasileiro
João Ubaldo Ribeiro 

Formado em Direito (1962), nunca exerceu a profissão. Aos 21 anos escreveu seu primeiro livro, "Setembro Não Faz Sentido". 
Jornalista e cientista político, ele foi autor de mais de 20 livros, publicados em 16 países.
Venceu, por duas vezes, o Prémio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Em 1972, conquistou o Jabuti de Melhor Autor, por Sargento Getúlio. Em 1984, venceu na categoria Melhor Romance, com Viva o Povo Brasileiro.




Rubem Alves (1933-2014
créditos: DR
via Público

Rubem Alves morreu na madrugada de 20 Julho. Escritor brasileiro, um dos maiores pensadores contemporâneos do Brasil.

Formou-se em Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, especializou-se em Psicanálise na Sociedade Paulista de Psicanálise. Doutorou-se em Princeton (EUA) 

Publicou mais de 120 títulos: teologia, filosofia, pedagogia, educação, e 
literatura infantil.




Tempus Fugit
Rubem Alves | 

Entre outre outras obras, escreveu Livros como "Tempus fugit", "O quarto do mistério", "Concerto para corpo e alma"*"A alegria de ensinar", "Por uma educação romântica" e "Filosofia da ciência".


Escreveu também obras de literatura infantil e juvenil: "O Pássaro Encantado" e "A Pipa e a Flor".






Concerto para corpo e alma
Rubem Alves

A obra 'Concerto para corpo e alma' é uma crónica que exalta o presente da vida. De certa modo, Rubem Alves fala da nossa preocupação com o futuro, esquecendo que o presente é o único momento que vale a pena.

Várias figuras de relevo no Brasil se referem a Rubem Alves como um dos intelectuais mais respeitados do Brasil.

"Resta. quanto tempo? Não sei.

O relógio da vida não tem ponteiros.

Só se ouve o tique-taque...

Só posso dizer : carpe diem-

colha o dia como um morango vermelho,

que cresce à beira do abismo.

É o que tento fazer. "

Rubem Alves

Li muito de Rubem Alves - adoro sua filsofia de vida - menos de João Ubaldo Ribeiro, embora em determinada época tivesse que o estudar na cadeira de Literatura Brasileira. 

Confesso, no entanto, que gostava bem mais de Jorge Amado ou Ramos Rosa.

Quanto a Rubem Alves foi leitura de devoção, meu 'guru' em muito da filosofia que pratiquei na minha vida académica e na meditação da essência do ser humano que pratico em minh'alma.





Nelson Mandela & Nadine Gordimer

No que concerne a Nadine Gordimer, não sou muito conhecedora da sua obra literária, tal como não era da obra de Dora Lessing ou Herta Muller Alice Munro me era muito familiar.

Era sim conhecedora da sua militância anti-apartheid quando a via com frequência ao lado de Nelson Mandela.






Mario Vargas Llosa
foto: José Relvas | Lusa

E para finalizar, uma curta homenagem a Mario Vargas Llosa que esteve em Lisboa para receber o doutoramento 'Honoris Causa' da Universidade Nova de Lisboa. 

Prémio Nobel de Literatura (2010), o escritor peruano que continua inspirado na "importância da cultura, e da literatura em particular, no desenvolvimento do espírito crítico dos cidadãos". 

Leio muitos dos artigos, a propósito desta passagem por Portugal, e das várias entrevistas publicadas nos media.

"O desaparecimento do espírito crítico vem com a frivolização de uma cultura que só procura entreter e divertir, e que se converteu muito mais num espectáculo do que o que tradicionalmente era: pensamento, ideias, uma visão crítica da realidade, da vida e de todas as manifestações das relações humanas." 

Mario Vargas llosa

G-S

Fragmentos Culturais 26-07-2014
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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Falemos de cinema em tempo de verão !





Words & Pictures 
Fred Schepis, 2013


Cinema. É bom voltar a falar de cinema. Escrevi sobre cinema a propósito do Festival de Cannes, em Maio passado, e em Fevereiro sobre a cerimónia dos Oscars. E depois, devo recuar até Agosto 2013 para falar de cinema


Tanto tempo sem ir ao cinema ? Não. Impossível. Vou sim. Como vou a um bom concerto, ou oiço um CD, enquanto leio o livro do momento. Livros, outro em falta, nos últimos tempos.


Tal como em cinema, também na leitura procuro coisas mais leves em tempo de verão. Preciso de tudo mais leve, para me deliciar com o esplendor da minha estação favorita. 


Bom, estava eu a falar de cinema. Sempre que posso, lá estou. Perdida em mim, desfazendo-me do quotidiano, em frente a um grande ecrã. O cinema transmite-me bem estar, intimidade, tranquilidade (sempre que é possível - há alguns espectadores que supõem estar no prolongamento do seu sofá da sua sala de estar pelas conversas em alta voz, outros que não tiram o som aos telemóveis - mas regra geral, na sessão horária que mais me apraz, esses 'intrusos' são menos.





Words & Pictures 
Fred Schepis, 2013


Os filmes foram desfilando em cartaz! E eu deliciando-me, como quem deixa fluir a vida a um ritmo de magia em diferentes momentos que vão passando na tela.


Foram bastantes os filmes que vi, desde a última vez que abordei o tema cinema. Fico-me, no entanto, pelos mais recentes. E mais leves, como convém a esta época.


Começo pelo que vi sábado passado. "Por falar em amor", sim, título original Words & Pictures (2013), com Juliette Binoche e Clive Owen. Dois actores que aprecio muito, especialmente Juliette Binoche. Suponho que ainda não vi nenhum filme com Binoche que me desagradasse.


"Stronger than world, more powerful than pictures is the ability to inspire."








O filme tem como cenário de fundo uma discussão em formato de 'guerra' de sexos sobre Literatura e Artes - palavras vs. imagens - e claro, vai de frente cair no amor, o que é sempre encantador. 


Fala de 'bons professores', daqueles que têm alma para motivar os alunos, da devoção ao ensino que produz resultados surpreendentes, tornando-se fonte de motivação para os alunos, capaz de os fazer despertar da sensaboria, da superficialidade das sms, e do mau uso das redes sociais. o todo cruzando-se com utopias pessoais, o envolvimento de duas pessoas (e dois mundos) que, afinal, se complementam.


Esta interligação entre palavras e imagens faz de um argumento quase banal, alguns clichés - colagens a Clube dos Poetas Mortos, com o inesquecível Robin Wiiliams, ou a Pollock -, uma comédia excelente, mesclada de melodrama. 


Momentos de indelével boa disposição, diálogos sugestivos. E boas interpretações.








Grand Budapest Hotel, um filme delicioso de Wes Anderson, realizador muito criativo, baseado em escritos do romancista vienense Stefan Zweig, um escritor austríaco (Vienna, Austria-Hungary) e interpretado por actores de excelência, Ralph Fiennes. Edward Norton, William Dafoe, Harvey Keitel, Jude Law, Tilda Swinton, Mathiew Amalric, entre muitos outros. Personagens que dificilmente encontrarão tão sugestivas, e inesperadas.


Uma comédia de época e de costumes, com uma centelha de mistério, plena de humor, bem divertida, num décor de grande hotel de luxo do final de século XIX. Um filme que nos deixa sair soltos, divertidos, bem sorridentes.









Yves Saint-Laurent
Jalil Lespert, 2014


Yves Saint-Laurent, um filme biográfico, de Jalil Lespert, baseado na vida e na obra de um dos maiores e mais famosos estilitas da Alta-Costura Francesa. Talvez o mais arrojado e inspirado criador de moda do mundo, no século XX.


Era, no entanto, fora do sua geniosidade e inpiração, um homem frágil, preso a grandes vulnerabilidades, algumas das quais não teria sido necessário revelar no filme, apesar de autorizado por Pierre Bergé, seu companheiro de vida e de vida profissional. 


Sabem que sou contra divulgação da intimidade de pessoas, sem autorização das mesmas, ainda em vida. Ter a certeza que estariam de acordo, após sua morte. Duvido que Saint-Laurent na sua íntima timidez o tivesse desejado.


Pierre Bergé é interpretado pelo fabuloso actor Guillaume Gallieni e pelo menos conhecido Pierre Niney mas com excelente interpretração no papel de Yves St-Laurent.






Yves Saint-Laurent | Pierre Niney


A maior valia do filme: Paris na época, de Saint-Laurent, anos 50, as suas criações míticas, peças do génio retiradas dos seus arquivos (croquis, desenhos) e alguns objectos da sua célebre colecção de arte.

Tenho que admitir que alguns desfiles são lindíssimos, pela estética com que Saint-Laurent se exprimia em muitas das suas criações. 

Um filme bem feito que tenta ser autêntico. Já para não falar na sua valiosa colecção de arte, vendida em leilão, há poucos anos.

"It's incredibly moving and extremely insightful into the life of a troubled artist."

Outro registo, totalmente diferente. Um filme leve, super bem disposto, com lindos cenários naturais, Paris, Nice, para uma boa tarde de verão.





The Love punch
 Joel Hopkins, 2013


"You can pinch a diamond without stealing a few hearts."

Golpe de Amor, tradução de The Love punchdo premiado realizador Joel Hopkins nos BAFTAé, por excelência, uma divertídissima comédia com Pierce Brosnam e Emma Thompson, actores que dispensam qualquer tipo de apresentação. 


Passado entre a cativante cidade de Paris e a bonita Côte d'Azur, bem mais sugestiva em filme do que in loco (actualmente)e com um happy end de moralidade social, em relação a situações que, infelizmente, nos atingem tanto nos dias de hoje.









Tirando um célebre cliché do clássico de Hitchcock, Ladrão de Casa, Golpe de Amor é uma comédia fresca, com várias cenas hilariantes. Os dois actores são imbatíveis. E Emma Thompson é uma verdadeira revelação neste género de 'golpista' bem intencionada. Como a actriz afirmou, a propósito, a sua 'alma de clown' despertou claramente.


E por hoje, fico-me com "A Mamã, os Rapazes, e eu!", título orignal, Les Garçons et Guillaume, à table!, adaptação cinematográfica de uma peça homónima de Guillaume Gallienne, da Comédie Française.


"Drôlissime"



Les Enfants, et Guillaume, à Table ! 
Guilaume Galienne, 2013


"Tinha quatro ou cinco anos de idade quando a minha mãe me deu o seu primeiro presente. Quando ela nos chama para o jantar, a mim e aos meus dois irmãos,  ela diz "Rapazes e Guilherme, para a mesa!" e a última vez que falei com ela ao telefone ela desligou dizendo "Um beijo, querida"; mas a verdade é que entre estas duas frases há alguns mal-entendidos."

Tordant, Génial, Hilarant !
Le Point.fr

São apenas curtos apontamentos. Deixo a descoberta para os leitores interessados.


Não me posso queixar. Há bom cinema europeu nas salas comerciais, neste verão inseguro, em que os dias frescos se entrecruzam com dias de temperaturas muito mais apetecíveis. Como as de hoje.


Sem retirar nada ao prazer de passear ao ar livre, em final de tarde, dê um salto ao cinema e descontraia.


"I think cinema, movies, and magic have always been closely associated. The very earliest people who made film were magicians."

Francis Ford Coppola


G-S

Fragmentos Culturais

10.07.2014

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