Em tempo(s) de Natal. Poisámos o perfume dos afectos, ahaste de azevinho, as luzes e as velas. Baixamos serenidade. `
Tempo(s) também denostalgia. Dos seres que não se sentam mais à nossa mesa, dos amigos que partiram sem sem ter tempo de um olhar de despedida. Afectos suspensos que pairam na noite de Natal.
Lembranças guardadas. Olhar saudoso.
Mas a azáfama acorda-nos destes torpores de melancolia. Abre-se a porta da alegria. Prepara-se a recepção da família, dos amigos. No ar soltam-se os aromas da canela, do leite-creme, dos frutos secos, da aletria, do chocolate quente. E das rabanadas.
Lá fora, o nevoeiro desceu sobre a cidade, e as luzes ficaram mais trémulas por entre os pingos da chuva, suave.
As nuvens adensaram-se em contraste com os tons quentes das velas, da doçaria tradicional, das frutas frescas.
Natal. O encanto irrompe, preenchendo o seu espaço. No íntimo, cada um nós acorda aquele sentimento mais puro. O da magia.
Percorrem-se melodias, buscam-se sorrisos. Um pouco mais de intensidade no brilho do olhar. Emoções.
Hoje sim, tenho poesia. A de poetas.
Frémito de Luz
Há um frémito de luz que se adivinha um perfume louro adormentado
com bagas escarlates de azevinho e rosas brancas a decorar a tarde
Há um rasto de neve e nascimento, doces de mel lume e frutos secos
um sussurrar fugaz a mitigar, um som dolente
Memória da infância a recordar o perpassar do anjo na viagem do tempo Maria Teresa Horta
Lisboa, 23 de Dezembro de 2015
Ah! A magia da poesia. Perdemo-nos nos sons que as palavras sussuram dentro de nós. Como quem medita. E assim, vamos trazendo a cada tempo de Natal, a magia do instante. No perpassar do anjo.
O que guardamos? Afectos que nos envolvem nesta noite doce.
Frank Sinatra celebraria hoje, se fosse vivo, o seu 100º aniversário. O icónico cantor e actor norte-americano entrou para a história como um dos maiores intérpretes de todos os tempos.
Gravou mais 1 800 músicas com sucessos que se eternizam no tempo. Como actor participou em mais de 50 filmes.
Francis Albert Sinatra, filho de imigrantes italianos, nasceu na cidade de Hooboken, Nova Jersey, Estados Unidos, a 12 de Dezembro de 1915.
Tornou-se rapidamente um artista de sucesso, depois de ter assinado com a Columbia Records em 1940. Lançou o seu primeiro álbum, “The Voice of Frank Sinatra”, em 1946.
Frank Sinatra
Frank Sinatra in 1984 at the Universal Amphitheatre
credits: Gary Friedman / Los Angeles Times)
O cantor gostava especialmente do ambiente de estúdio. Afirmou certa vez, numa entrevista: “Adoro gravar discos, o que prefiro a qualquer outra coisa”.
Cantou durante 70 anos. Tive o privilégio de o ouvir no estádio das Antas, Maio 1992, em um dos seus últimos concertos em vida. O carro que o transportava, subiu por uma rampa lateral ao grande palco, colocado no meio do estádio, e foi daí que saiu uma figura franzina, um pouco debilitada no andar. Tive a sorte de ficar bem perto do palco.
Frank Sinatra
Porto, 1962
via Observador, 2015
Mas quando se colocou frente ao microfone, "the voice" cantou por inteiro. Nada perdera do seu timbre nem da capacidade vocal. Era a voz que sempre ouvíramos através dos tempos, nos discos de vinil, hoje CD. E nos filmes.
Não encontrei fotos ou videos desse concerto. Mas o concerto seguiu o alinhamento do concerto em Barcelona que teve lugar quatro dias antes. E foi com esta canção (my favorite one) que terminou o concerto no Porto. O estádio ovacionou de pé o cantor.
Este grande intérprete da época áurea de canções, gravou quase duas mil músicas. My Way, Strangers in the Night, Let me Try Again, Night and Day, New York New York, Moon River, Fly Me To The Moon, I’ve Got The World On A String ou The Lady is a Tramp são alguns dos seus maiores sucessos.
Cedo ficou conhecido como “The Voice”, ou "a Voz”, a música popular americana, da época doirada de compositores como Ervin Berlin, Cole Porter entre outros. O cinema deu-lhe uma imagem, um rosto.
O seu talento para cantar permitiu-lhe enveredar pela área do cinema. No início, em musicais, comédias e romances, sendo “Canção ao Amanhecer” (1941). Seguiram-se filmes como “Bom dia Soldados”(1943), “Milionários de Ocasião” (1943), “Amor, Música e Sarilhos” (1944),“Paixão de Marinheiro” (1945), “Até as Nuvens Passarem” (1946),“Tudo Canta no Meu Bairro” (1947),“O Milagre dos Sinos” (1948) e “Um Dia Em Nova Iorque” (1949).
No cinema demonstrou grande capacidade para interpretar papéis mais difíceis e dramáticos. Ganhou o Oscar de "Melhor Actor Secundário" (1954) pelo filmeAté à Eternidade deFred Zinnemann e foi nomeado para Melhor Actor no filme The Man with the Golden Arm (1956).
Entre os papéis dramáticos destacam-se O Homem do Braço de Ouro(1955), “Deus Sabe Quanto Amei” (1958) e “O Enviado da Manchúria”(1962). Sinatra começou a cantar menos nos filmes, passando a ser protagonista, tornando-se num dos mais requisitados actores de Hollywood dos anos 50.
O talento e sucesso permitiram-lhe entrar em dramas, westerns, policiais e filmes de guerra, para além das comédias e musicais do início da sua carreira de actor.
Destacam-se filmes como Alta Sociedade com Grace Kelly (1956), “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias ” (1956),“Os Onze do Oceano”(1960),“As Cinco Caras do Assassino”(1963),“Os Sete Ladrões da Cidade”(1964), “O Expresso de Von Ryan”(1965) e “O Detective”(1968).
Mais de 17 anos após sua morte e com a comemoração, hoje 12 Dezembro, do Centenário de seu nascimento, Frank Sinatra e seu legado musical continuam a ocupar um lugar único na cultura americana e mundial.
Apresentado várias vezes como "the voice" ou "blue eyes", morreu aos 82 anos, a 14 de Maio 1998 em Los Angeles (Califórnia). Dizem que tem inscrito na sua campa:
"The Best Is Yet To Come."
Os eventos sucedem-se um pouco por todo os mundo, para prestar homenagem a "The Voice".
Em Las Vegas, um grande concerto, com Tony Bennett e Lady Gaga. No Lincoln Center, em Nova Iorque um outro concerto. Festas temáticas, bem como a colocação de uma placa comemorativa em sua cidade natal, Hoboken, em Nova Jersey.
Uma box especial de quatro CDs, incluindo antigas gravações de rádio, também foi lançada no final de Novembro.
Dez livros sobre Sinatra foram publicados este ano, explorando o mito de "blue eyes", Este, por exemplo, que poderá ver online aqui (fotos).
"On the centennial of his birth, Sinatra 100―with the participation of his three children―is an intimate and dramatic visual portrait of Frank Sinatra, revealing many of the previously unseen moments in a remarkable life. Of course, Sinatra’s legacy speaks for itself. An entertainer of mesmerizing talent, charisma, and style, he is one of the best-selling recording artists of all time, and Academy Award-winning actor, and a cultural icon."
A Apple e Google Play lançaram apps para iPhone, iPad, iPod touch, e Android. iTunes tem muito melhor qualidade, e é gratuita. Aconselho, se gosta de Sinatra.
E por cá a Smooth FM dedica-lhe uma emissão de 24 horas. "100 anos de Sinatra em Somooth FM. 24 horas de homenagem". Emissão que me acompanha enquanto escrevo. Audição online disponível aqui.
Seria infindável esta homenagem a Frank Sinatra. Terei que ficar por aqui. O cantor que passei a gostar, ouvindo os discos lá de casa. E me ficou para sempre na memória dos afectos.
Termino com a interpretação de Rod Stewart do célebre tema "I've got you under my skin". Adoro ouvir este senhor! Meu rocker favorito! Fui vê-lo live ao Pavilhão Atlântico, quando passou por Lisboa, em Julho 2005.
Não há melhores momentos do que participar em concertos ao vivo. Toda uma química que se partilha que não é descritível. Toca nos sentimentos estéticos mais profundos. Permanecem inolvidáveis.
A vida do lendário cantor e actor despertou o interesse de Martin Scorsese, que se tem dedicado, ultimamente, a filmar grandes biografias - já aqui publiquei a de George Harrison. Scorsese realiza um filme, intitulado “Sinatra”, ainda em fase de pré-produção.
« WOW, look at that ! » « That » is the Livraria Lello and you have never seen anything like it. Although, come to think of it, it probably reminds you of somewhere…
Fall in love with this fabulous bookshop and the totally unique spectacle of an amazing interior architecture. This somptuous bookshop inspired (yes, that’s it !) the Harry Potter’s library in Hogwarts. In fact, J.K Rowling lived in Porto teaching English in the early 1990s. Remember those awesome stairs and the impressive mouldings ? Alas, photos and filming are strictly forbidden and the sales staff are very vigilant. So soak in as many impressions as you can and remember it always."
European Consummers Choice
A Livraria Lello, como todos sabem, passou a cobrar três euros pela visita que serão dedutíveis na compra de um livro. Razão? A avalancha de turistas exponenciada pelo crescimento da cidade do Porto como roteiro cultural europeu. A Baixa 'renascida' atrai centenas de turistas, e muitos de nós, claramente rendidos. Visitando lugares de culto ou espaços de degustação de bom gosto, a Baixa do Porto passou, de novo, a ser digna de lazer bem prazeroso.
"Las calles de la ciudad se va llenando, aparte del creciente turismo, de arte a cielo abierto. Ya se inició en 2001 con ocasión de la capitalidad cultural europea y la excepcional Trece riéndose unos de otros, la última obra del español Manuel Muñoz; ahora se añaden Ascensión, de Julio le Parc o Dead Ends, de João Louro, entre otros. Si se prefiere arte bajo techado, hay que patearse la recoleta calle Bombarda, que concentra galerías, cafés y posadas para artistas."
Mas voltando à Livraria Lello, considerada uma das mais bonitas livrarias do mundo - ocupa o terceiro lugar - a Lello tomou a decisão de cobrar a importância já assinalada para conter as entradas de turistas - mais de mil por dia, afirma.
E quando Joanne
K. Rowling fez saber que se inspirara nas escadas da livraria Lello para criar a grande escadaria de Hogwarts
- refiro-me ao universo de Harry Potter - aos já muitos turistas,
juntaram-se os fãs da sequela, entre os quais me incluo.
Edinburgo pode ter sido onde Harry Potter se
desenvolveu na cabeça de Rowling, mas haverá sempre uma parte
da Lello, e do Porto, em Hogwarts.
"Protegida bajo la
magia de Harry Potter, esta ciudad tiene desde julio un récord mundial
increíble: una librería que gana más dinero por dejar mirar que por vender
libros. La librería Lello cobra por entrar, una decisión de supervivencia ante
la avalancha diaria que iba camino de arruinarles. Cerca de 4.000 personas
entraban cada día para ver la escalera que inspiró a la escritora J.
K. Rowling en sus Harry
Potter, hacerse un selfie y
largarse sin decir ni obrigado. El
remedio ha sido cobrar tres euros la entrada, que se devuelven en el caso
(rarísimo) de que alguien compre un libro."
Eu estou de acordo com a medida. Afinal, qualquer espaço de cultura, no estrangeiro é pago, e os valores bem mais elevados. E a Lello é uma raridade do séc. XIX. O bilhete foi instituido há três meses, por aí, tendo sido muito criticado. Tradição nacional. Criticar.
Pois sabe-se agora que as vendas da Lello aumentaram, segundo notícias, triplicaram, em três meses apenas.
Se isso significa que há mais gente a ler livros em virtude da simples obrigação de pagar para visitar a livraria, então podemos aplicar o aforismo "há males que vêm por bem".
Mas há outros casos, também interessantes de livrarias, a nível internacional, que lançaram mão de meios para atrair pesssoas à leitura e à compra de livros.
A Shakespeare & Company, em
Paris, uma das mais famosas livrarias, lugar que atraiu Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Henry Miller, Anaïs Nin, entre muitos outros, decidiu criar, pela mão da Sylvia, filha do antigo proprietário, o excêntrico, irascível e visionário George Whitman, uma simpática esplanada à porta, para que os compradores de livros possam sentar-se, folhear alguns livros, enquanto tomam um café e comem uma especialidade.
Shakespeare & Company situa-se face ao Sena, não muito longe do Quartier Latin, Place Saint-Michel, e Boulevard Saint-Germain. O quartier com maior referência intelectual.
Se a livraria da Rive Gauche já atraía turistas de todo o mundo pelos seus
livros raros, agora não se trata apenas de passar por lá. Pode-se ficar sentado na esplanada, tranquilamente, a degustar livros, e as especialidades da casa. Sobre esta conceituada livraria, aconselho a leitura do artigo In a Bookstore in Paris, que saíu na Vanity Fair/ Culture, em 2014. Para quem aprecia livros e literatura, o artigo é um passeio nostálgico pelos escritores da Lost Generation.
Gosto deste novos conceitos que apelam ao leitor-comprador e ao distinto
atendimento, desprendo-se da habitual frieza que são os actuais lugares de
livros. G-S Fragmentos Culturais