terça-feira, 8 de março de 2016

Dia International da Mulher : Hypathia






Hypathia de Alexandria*
Escola das Artes|Rafael
Hypathia de pé e com túnica branca
Museus do Vaticano


Elas 
Iludem as escurezas
dos rostos
a negrura das nódoas

do corpo

desatam os nós que lhes
atardam, atam e algemam
a alma e os pulsos

Conversam entre si
coisas de enredo
lançam Luz nos recantos

das vagas

Trocam receitas de venenos
murmuram palavras escusas
desejos inolvidáveis

‘Oh, que dureza ruim!
Ataduras e debruns
missanga de muita estrela

Cassiopeia, raízes
sangrantes
das próprias veias’

Elas 
inventam a mata
na clareira assombrada
embrenhadas na vigília

Recriam, criam, dominam

Viram pombas, profetizas
com uma alvura de cera
pálidas rosas da China

‘Oh, tormenta amendoada
solidões desirmanadas
enquanto de madrugada

Cavam, enterram, devassam
pespontando com o riso
as dobras do calamento’

Elas 
bradam, elas buscam
sibilas e amazonas
emudecem as camélias

e as roseiras nervosas

Feiticeiras ardilosas
filhas da harmonia
partilham as tempestades

Derrubam, suturam, fiam

‘Oh doçuras sigilosas
no aço do destempero
de incêndios e desesperos

Virados pelo avesso
a paixão e a razão
entre si tão divididas’

Elas
recusam, derrubam
dominam as próprias vidas
com a sua inteligência

Tornam-se donas do tempo
a semearem agruras
pelos meandros do vento.

Maria Teresa Horta, Elas, Março 2016*
in Facebook página oficial 


Hypathia, a primeira mulher documentada como Matemática, nasceu em Alexandria entre 350 e 370 e aí barbaramente foi assassinada pelos cristãos em fúria (c. 415 ou 416). 

Neoplatonista, foi também professora de Filosofia e Astronomia, tendo o seu homicídio marcado, segundo Kathleen Wider, o fim da Antiguidade Clássica. 

O quadro que representa Hypatia é da autoria de Rafael, um dos grandes nomes do Renascimento, e encontra-se nos Museus do Vaticano

Foi a imagem escolhida por Maria Teresa Horta para ilustrar o seu poema no Dia Internacional da Mulher

*O poema que tem a data 2016 foi, no entanto, já publicado em 2014.

Em Dezembro 2009, escrevi sobre Ágora: um filme que nos toca. Baseado em alguns factos verídicos da vida de Hypathia, tem, no entanto, várias inexactidões históricas, o que em nada retira o mérito ao filme que desvenda um pouco da mulher que se atreveu a exprimir, em público, toda a sua cultura, num tempo em que tal não era permitido às mulheres.


G-S

Fragmentos Culturais

08.03.2016
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