segunda-feira, 23 de maio de 2016

Michael Nyman na Casa da Música 2013-2016





Michael Nyman
http://www.uguru.net/

"Michael Nyman's work encompasses operas and string quartets, film soundtracks and orchestral concertos."

Michael Nyman, o célebre e conceituado compositor, pianista britânico - quem não viu o filme O Piano -  a solo na Casa da Música.

Nyman e “Solo and Cine Opera”, tema da sua tournée. Foi no dia 26 Junho 2013. Sala Suggia não esgotada.

Em palco, apenas Nyman. E o piano. Luzes desligadas, algumas imagens desfilavam num ecrã, quando o compositor entrou em palco.

Assim permaneceu ao longo de todo o concerto. Silencioso nas palavras, quase inexpressivo. Apenas o som do piano. E algumas imagens de vídeos captados pelo compositor ao longo das suas viagens.

'No Bull'. Imagens de uma tourada à espanhola, sangue, violência. Detestei. Admirei de novo a sala. A música que se ouvia transmitia o oposto da violência. Melhor assim. 

Michael Nyman entrou na penumbra, depois de 'No Bull' e sentou-se ao piano, na discreta postura escolhida para todo o concerto. O nosso olhar concentrou-se no perfil recortado pelo spot de luz difusa, dando um ar ainda mais distante. E assim continuou até final. 




Michael Nyman | CCB
créditos: David Sineiro

As sonoridades do piano captavam a nossa inteira atenção. Concentrei-me mais no teclado do que nas imagens urbanas que iam desfilando. Não lhes dei muita atenção.

Um tema sobressaíu. 'Berlin Lobbysts', 'Slow Walkers'. Uma alusão à caminhada que todos teremos de fazer: envelhecer.

Muito diferente de Philip Glass (2011) que, apesar da mais velho, se mostrou aberto, sensível, receptivo, mais virado para o lado positivo da vida. Influências esprituais de Ravir Shankar?



Michael Nyman
créditos: Diogo Baptista

Nyman tocou, seguindo as partituras que ia lançando para o no chão do palco, em gesto rápido. E lá ficaram.

Tocou temas de algumas das suas bandas sonoras cinematográficas. O Piano não poderia faltar. Uma dos mais belos momentos musicais.

'The Morrow', 'Becoming Jerom', 'The Departure' foram outros temas escolhidos por Nyman para nos levar até ao mundo que valoriza: a beleza e a juventude eterna, sonho perseguido por tantos.

Sem apoio imagético, ouvimos ainda temas dos filmes 'The Diary of Anne Franck' (1995), 'Why'. A guerra, o sofrimento? 'The End of the Affair' (1999) com o tema 'Diary of Love', sensível tema ilustrado.

E continuámos pela música que nos levou ao imaginário, em contraponto com as imagens reveladoras do lado real da vida.

Mensagem de um concerto sem palavras? A vida é dura, envelhece-se, sofre-se. Poucos momentos de alegria. Reflexão de uma vida.

Em contraponto, a música. A dicotomia ao longo do concerto. Imagens que nos despertam, perturbam, emocionam, a música que nos alivia, envolve, liberta.

No final, o silêncio absoluto no agradecimento. Um concerto sem alma. Mas musicalmente perfeito.



Michael Nyman
créditos: Diogo Baptista

Ficaram com a impressão que já tinham lido esta despretensiosa crónica de uma noite ouvindo Michael Nyman na Casa da Música?

Sim, não estão enganados. Estas foram as minhas impressões do concerto de Michael Nyman, na Casa da Música, dia 26 Junho 2013.




Michael Nyman | Casa da Música 2013
foto: Ana Limão

"Far more than merely a composer, he's also a performer, conductor, bandleader, pianist, author, musicologist and now a photographer and film-maker." 

Voltei à Casa da Música, ontem à noite, dia 22 Maio 2016 para ver e ouvir Classic Waves.

Mas, o que vi e ouvi, foi precisamente o que vi e ouvi em 26 Junho 2013. Nesse dia, o concerto teve por título: “Solo and Cine Opera”.

Quanto ao Classic WavesAlinhamento igual, conteúdo musical e imagético iguais. E com menos qualidade. Fiquei como que pregada à cadeira. Grande decepção
.



Michael Nyman
créditos: Diogo Baptista

Não estava eu esperançada em ver e ouvir algo de diferente? Sem dúvida. Mas não foi o que aconteceu.

A piorar a inusitada repetição de um concerto de um dos maiores nomes da música contemporânea, Nyman apresentou-se em palco, com ar desprendido, apresentação pouco cuidada, ar cansado. Regressara de S. Miguel, Açores onde esteve a tocar na véspera.

Tocou uma grande parte do concerto com ar longínquio. Coçou as costas com a mão esquerda, enquanto a direita continuava. Soaram algumas notas erradas, pelo meio, outras um tanto 'esborrachadas' (como se diz em gíria musical). Um alheamento do público sem paralelo. Tocar quase por tocar. Interpretar? Não senti.

Cansaço? A tournée que fez pelo país não lhe permitiu descansar. Os anos vão passando. Concordo. Mas, é impensável assistir a um concerto de Nyman tão desinteressante.



Michael Nyman
créditos: Diogo Baptista

"A audiência será surpreendida pela combinação entre música tocada ao vivo e imagens, o que poderá ser também um estímulo", afirmou Nyman numa entrevista.

Bom, talvez o compositor partisse do princípio que o público português é menos culto do que os restantes públicos dos países europeus por onde passou. Que somos alheios a tão original (?) combinação... 

Ou que música de qualidade precise de 'estímulo' visual projectado numa tela? O nosso imaginário basta.

O que se passou ontem na Casa da Música foi confrangedor. Michael Nyman "uma das mais incontornáveis referências da música contemporânea, compositor de excepção com uma obra vasta e reconhecida" desfez o meu mito. E a crença que o ritual de um concerto ao vivo é uma experiência estética enriquecedora. Senti vontade de abandonar a sala.




Michael Nyman
créditos: Michael Nyman

Melhor ouvi-lo em casa, numa boa gravação, do que assistir ao que assisti. A exploração 'repetida' do seu repertório musical não apaziguou a minha imensa decepção.

Mas, fiquei. Por respeito ao grande ícon cultural que tanto admiro na sua música.

Espanto meu. A audiência da sala Suggia levantou-se quase em bloco - houve resistentes como eu, que permaneceram sentados -  para aplaudir, no final do concerto. 

Será que os grandes músicos só valem pela fama que granjearam e não pela maneira como se apresentam ao seu público fiel? Ou melhor. Como interpretam a sua música e a partilham com quem tanto os admira?

"Although he's far too modest to allow the description 'Renaissance Man', his restless creativity and multi-faceted art has made him one of the most fascinating and influential cultural icons of our times."

G-S

Fragmentos Culturais

23.05.2016

Copyright © 2016-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®

Referências:

* Citações retiradas do site oficial de Michael Nyman.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Falemos de Amadeo de Souza-Cardoso





Lévriers, 1911 Huile sur toile, Portugal, Lisbonne
Amadeo de Souza-Cardoso, 
Fundação Gulbenkian/ Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão 
© Collection CAM/Fondation Calouste Gulbenkian. Photo : Paulo Costa 
https://www.grandpalais.fr/

Hoje é Dia Internacional dos Museus. Tempo certo para celebrar Amadeo de Souza-Cardoso, o pintor português em exposição no Grand Palais, Paris.

"Amadeo de Souza-Cardoso est un artiste aux multiples facettes dont l’oeuvre se situe à la croisée de tous les courants artistiques du XXe siècle. Au-delà des influences impressionnistes, fauves, cubistes et futuristes, il refuse les étiquettes et imagine un art qui lui est propre, entre tradition et modernité, entre le Portugal et Paris. Deux-cent cinquante oeuvres d’Amadeo et de ses amis proches, Modigliani, Brancusi ou encore le couple Delaunay, sont rassemblées dans cette exposition, qui est la première grande rétrospective consacrée à l’artiste portugais depuis 1958."

Grand Palais




Amadeo de Souza-Cardoso

Amadeo de Souza-Cardoso 1887-1918, a exposição dedicada a Amadeo de Souza -Cardoso (1887-1918), no Grand Palais, em Paris, foi inaugurada no dia 20 Abril 2016 no Grand Palais e aí permaceu até dia 18 Julho 2016.

Realizada no âmbito das comemorações dos 50 anos da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição reuniu 250 obras assinadas por Amadeo de Souza-Cardoso, 15 obras de outros artistas, que foram próximos do criador português, como Amedeo Modigliani, Constantin Brancusi e o casal Robert e Sonia Delaunay, e 52 documentos de arquivo.






A mostra, "uma revelação, uma redescoberta" para o público internacional, foi afirmado pela comissária da Exposição, a historiadora de arte Helena de Freitas, recordando que houve "um conjunto de circunstâncias que levaram a que, durante largas décadas, o trabalho de Amadeo não tivesse sido convenientemente divulgado".





Amadeo de Souza-Cardoso
https://c1.staticflickr.com/

Um século depois do desaparecimento de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), o Grand Palais, em Paris, dedicou-lhe uma grande exposição. O Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (MMASC) contribuiu com 20 peças da sua exposição permanente, entre pinturas, desenhos e caricaturas, correspondentes a diferentes fases da vida artística de Amadeo



Amadeo  invade o Métro de Paris 
Google dedicou-lhe um Doodle no dia 14 de Novembro 2012, dia do 125º aniversário de Amadeo de Souza-Cardoso




Google Doodle 125º aniversário de Amadeo de Souza-Cardoso

Em todo o século XX não existirá exemplo mais surpreendente de um artista maior caído no esquecimento do que o de Amadeo de Souza-Cardoso




Amadeo invade o Métro de Paris
"Figura ímpar da vanguarda modernista parisiense, deixou uma obra fulgurante, cúmplice de todas as revoluções estéticas do seu tempo e, simultaneamente, absolutamente única e original. A sua morte prematura, aos 30 anos, no final da I Guerra Mundial, afastou-o da consagração artística e da história de arte internacional."





Enquanto esteve em Paris, entre 1906-1914, Amadeo estava, de facto, no centro das vanguardas do seu tempo. Relacionou-se ao lado dos artistas que todos conhecemos como os principais artistas das vanguardas internacionais. 

Amadeo estava naturalmente no centro, sem quaisquer complexos de inferioridade. Ele sentia-se tão à vontade em Manhufe como em Paris. 



Procissão Corpus Christi, 1913 (Coleção CAM - Fundação Gulbenkian)
Amadeo Souza-Cardoso

A vida de Souza-Cardoso foi curta e intensa, destacando-se dois períodos decisivos, assinalados nesta Exposição no Grand Palais: a vida em Paris (1906-1914) e o regresso à sua terra natal, Manhufe (1914-1918). 

Durante este período de pouco mais de uma década, o artista viveu nestes dois mundos, entre viagens de ir e voltar, sempre insatisfeito, desejando estar onde não estava, numa permanente instabilidade geográfica.








Amadeo invade o Métro de Paris

A Exposição mostrou uma densa produção artística, ilustrando uma obra plena de referências ao mundo rural e ao mundo moderno, com registos cubistas, futuristas ou expressionistas. Um artista que afirmava "ter mais fases de luas" e que foi traçando o próprio estilo sem querer integrar nenhum movimento.

"Je suis futuriste, cubiste, inpressionniste, je n'ai aucune école."

Amadeo de Souza-Cardoso




Clown/Cavalo/Salamandra, 1911-1912
Amadeo Souza-Cardoso

Organizada pelo organismo público francês Réunion des Musées Nationaux et du Grand Palais des Champs-Élysées, com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

«Le plus célèbre peintre portugais avancé», tels sont les mots qu'utilisa Fernando Pessoa pour décrire Souza-Cardoso en 1916. 

José de Almada Negreiros, écrivain, artiste et compagnon de travail d'Amadeo, proclama à son égard une phrase légendaire du Futurisme portugais : « Amadeo est la première découverte du Portugal en Europe au XXème siècle ».





"Un siècle plus tard, ces affirmations se heurtent à la méconnaissance qui plane dans l'historiographie internationale au sujet d'Amadeo - mais qui est donc cet artiste ?

L'exposition se propose non seulement de répondre à cette interrogation mais est aussi le signe d'un retour et d'une redécouverte."

Grand Palais

"Ça déborde de créativité, de génie, de dynamisme. C'est effervescent, époustouflant. J'ai l'impression d'avoir avalé un grand verre de couleurs et de rayonner." Marion O. Avril 2016

Paroles de visiteur sur l'exposition Amadeo.







Estreia em 26 Janeiro 2023, Amadeo o mais recente filme de Vicente Alves do Ó inspirado na vida e obra do grande pintor do Modernismo, Amadeo de Souza-Cardoso. A história do homem que sonhou pintar o futuro e o seu grande amor por Lucie, a mulher que lutou pela eternidade.


G-S

Fragmentos Culturais


18.05.2016

actualizado 14.11.2022
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Referências:

Grand Palais/ Fundação Calouste Gulbenkian/ Museu Municipal Amadeo Souza Cardoso